As Ilhas Soturnas - Wilson Costa

Ato 1 – A Maldição dourada

Adentro no salão, guardas de alto nível me conduzem a sala do tesouro, pilhas e pilhas de moedas de ouro e várias joias preciosas. Eriedor o Rei Dragão repousa em seu ninho dourado, seu olhar é mortal, ele pode me aniquilar com uma simples expiração, sinto que me sonda, como se pudesse ler a vibração de minha alma.
- Ouro que quer? – a pergunta ecoa mais em minha mente que em meus ouvidos, os guardas permanecem austeros em suas posições de vigia.
-Sim- sinto como se respondesse a mim mesmo. Os guardas agem como que por instinto, começam a coletar o ouro, colocando-o em sacas douradas.
- Seu peso em ouro pegara, seu peso em ouro pagará. – como um decreto cósmico o Rei realiza seu feitiço. Ao fazer os cálculos, não sou gordo, sou corpulento, 80,000 peças de ouro, dizem que o segredo para não se tornar uma pilha de moedas é não querer fugir da dívida, paga-la quando puder.
Tage me esperava do lado de fora, nos conhecemos em Tarnis, em Solidão, ela buscava trabalho e eu companheiros, queria explorar uma caverna onde possivelmente encontraria ''ruinas rúnicas'', mais seus perigos iam além de minha capacidade. 
Alugamos uma carroça e carregamos o ouro, uma longa viagem nos aguarda até pedra-verde onde encontraremos o representante da companhia de comercio, um Corler chamado Unda.  Após algumas horas de viagem fizemos uma parada na taverna de Cidade do lago, tracei uma runa de proteção na carroça antes de entrarmos, o taverneiro nos recepciona com uma jarra de vinho em uma mão e uma comanda na outra.
- Peguem uma mesa- ele diz entregando a comanda para mim e o jarro de vinho para Tage, ele usava um gorro característico da região, tapando suas orelhas. Logo veio uma moça nos atender, Tage tirou o capuz.
- Boa tarde, o que vão querer? – diz a moça, trazendo em mãos uma versão maior da nossa comanda e uma caneta-tinteiro.
Fizemos nosso pedido, no meio da refeição me veio a sensação que estava sendo observado, passei os olhos pela taverna, não o vi a primeira estância, quando meus olhos voltaram para o prato uma imagem ficou gravada em minha mente. Passei os olhos pela taverna novamente e lá estava ele um Corler com um sobretudo marrom-claro, óculos de grau e chapéu cinza. Nos observava, parece que Unda antecipou o nosso encontro, fomos a sua mesa, Tage levou o jarro de vinho e levei meu prato. Ele tira o chapéu e se ajeita na cadeira. 
– Boa tarde – a voz de Unda, profunda e fria, diz muito sobre sua postura como negociador.
- Malcer não voltou atrás sobre seu apoio aos matadouros, não vamos lhe dar mais tempo, agora temos relações comercias senhor Golgy – quando ele diz isso olho para Tage, um misto de surpresa e certeza paira no seu olhar.
- Então vamos negociar. – Digo ao Corler. a tirania de Malcer acabara, ele é um bruxo de magia negra e ver pedra-verde, minha terra natal, em suas mãos é ultrajante, com sua aliança com a companhia comercial ruída temos a dianteira.
- Que os Elohim nos guiem e os Damon guardem nossos caminhos. – Diz Tage soturna entornando outra caneca de vinho e embargando um pouco no pelo.
- Preciso de 100 trabucos, mosquetes, munições e sabres. – Observo os amarelos olhos de gralha do Corler enquanto ele me pesa e analisa.
- Fechado, 3,000 peças de ouro. vai precisar de escudos? – diz o corler.
- Posso pagar 2.000 peças, os escudos só se forem a prova de balas, não me venha com chapas de metal baratas. – Digo isto.
O Corler faz um movimento de cabeça como se tivesse sofrido um baque, eu cresci em meio a Corler's, estudei na escola de comércio.
- Vejo que sua reputação é verdadeira. – Diz o Corler, tira o chapéu, ajeita os óculos no bico e prossegue.
- Se pudesse lhes ajudaria sem custo, tem que compreender que sou um representante de um todo, Corler's ou não ninguém se oporá a Malcer sem alguma garantia, lhe faço 3 mil com os escudos reforçados, quer algo mais? –
- De momento não, faça a entrega na cabana do bosque Vanira. – Digo.
O Corler se retira da taverna, Tage pede outro jarro de vinho ao taverneiro.
A moça vem prontamente trazê-lo. – qual o seu nome? – pergunto. por um instante ela perde a compostura, surpresa por ser tratada como uma igual.
- Nissar- diz ela. seus olhos transpassam confiança e tranquilidade.
- Já ouviu falar de Malcer Crondor? – pergunto e a moça me olha intrigada, Tage observa a cena com curiosidade no olhar, bebendo seu vinho.
- Já ouvi falar dele sim- ela olha em volta movendo apenas os olhos e continua.
- Para mim ele é um tirano. – Quando ela diz isso abro um sorriso, Tage também o faz, mostrando suas presas e batendo a caneca na mesa.
- Quer fazer algo a respeito? – Tage pergunta, olhando-a fixamente.
- O que uma auxiliar de taverna pode fazer? – Diz Nissar descrente a Tage.
- Que tal liderar um exército? – Incito a moça com a proposta indiscreta.
- Tomar as cartas do jogo- Pego o jarro servindo mais duas canecas de vinho.
A realidade em que vivemos e como um jogo, suas escolhas, suas ações, fazem você adquirir aprendizado, te desenvolvem, desenvolvem sua consciência. A morte é uma passagem necessária, permite o desdobramento de seu aprendizado e a evolução do seu verdadeiro ser, tudo além disso é o jogo, ainda a muito o que descobrir, mais esta é uma das verdades universais. 
A garota sentada em nossa frente absorveu tudo o que dissemos, e o mais importante, ela compreendeu.
- E meu emprego, minha casa, o que faço agora? – Ela nos indaga com um sorriso estampado no rosto.
- Terá um novo emprego, uma nova casa, terá uma nova vida. – Me assombro com as minhas palavras, elas vibram como máximas em minha alma.
- Vamos- Diz Tage distraidamente, joga as moedas no balcão do taverneiro e sai pela porta, faço um sinal a Nissar e saímos juntos logo atrás, o taverneiro acompanha a sena estupefato, começa uma chuva fina, tomo as rédeas da carroça.
- Golgy é meu nome, esta é Tage minha sócia- digo a Nissar enquanto subiam na carroça.
Vamos pela estrada rumo ao interior de pedra-verde, antes de chegar a cidade pegamos um caminho alternativo para desviar das patrulhas de Malcer. Logo chegamos a uma cabana isolada no bosque de Vanira, descarregamos os sacos, abrimos as janelas da cabana para ventilar e quando a noite chega levamos tudo para o porão. Tage sobe as escadas para dar maças aos cavalos. Nissar olha curiosa a seu redor, mapas enquadrados nas paredes, estantes abarrotadas de livros e os diagramas sob a mesa central onde eu estava posicionado.
- É assim que vamos fazer? – Pergunta Nissar ingenuamente.
- Foi assim que já fizemos. – Digo com meu olhar insano característico.
- É a hora da ação. -Digo isso e Tage desce as escadas, traz um punhado de lenha e acende a lareira.
- Agora e só esperar. – Diz ela, a lareira se estende para frente onde há um suporte para panela, Tage começa a preparar um ensopado.
- O que sabe fazer Nissar? -  Indago a moça.
- Trabalhei na fazenda dos meus tios, conheço o plantio. Fui acolita em um templo de Luna (Tage espia de rabo de olho), depois que eles morreram vendi as terras e comprei uma casa na cidade e depois fui trabalhar na taverna. Vocês que fizeram? nunca vi uma lareira dessas – Diz Nissar.
- A ideia foi minha, mais Tage que a pôs em pratica, você conhece o plantio, já administrou uma quantia considerável e tem embasamento religioso solido. 
Já tenho uma ocupação para você, vai comandar um de nossos esquadrões. –Quando termino de falar Nissar me olha espantada.
- EESquadrão! - Diz Nissar de olhos arregalados, Tage dá um salto sobressalta.
- Não é tão terrível quanto parece- Diz Tage, focando novamente no ensopado.

Continua...

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